em Monografias & regionalismo
Typ. Burocratica, Tavira, 1894. In-8º de 89 págs. Brochado com capas ligeiramente picadas pela acção da humidade. Miolo em bom estado de conservação, não obstante a sua qualidade relativa a papel comum de baixa gramagem. Ilustrado com o brasão d'armas da Vila de Albufeira. Bela composição tipográfica com recurso a tipos distintos no frontspício e capa.
A Biblioetca Nacional não refere esta edição (entendemos que seja a segunda, omitidas nas bibliografias consultadas), mas apenas a orginal de 1873 impressa na Typ. Lacobricense.
RARO.
Na nota Ao Leitor, lemos o seguinte:
" ... O manuscripto da Memoria que vae ler-se, é propriedade do ex. mo sr. Manoel José de Paiva Negreiros, d'Albufeira, pertencente á familia Gonçalves Vieira, do Algoz, a qual contribuia com mais victimas para a hecatombe de que se trata. Muito louvor cabe a este cavalheiro, por ter conservado tão valioso documento para a historia da guerra civil, que n'aquelles calamitosos tempos assollou o Algarve, e não menos pela generosidade, com que o tem cedido para o dar à estampa. Conservâmos o texto em todo o rigor, alterando apenas algumas phrazes, que nos pareceram poder ainda ferir susceptibilidades, ou não traduzir bem o pensamento do author, que, com fundamento, se suppoe ter sido Francisco Antonio da Silva Cabrila, um dos personagens que tomou mais activa parle nos acontecimentos que narra ...".
Trata-se de um importante documento, narradas em primeira pessoa que não encontrou eco na historiografia erudita, para o estudo das Guerrilhas Miguelistas travadas em Portugal no período de 1832-34 , dado que a guerra civil do sul tem vindo a merecer nos últimos anos uma atenção redobrada, em contraste com os estudos novecentistas, mais centrados na campanha do cerco do Porto. Em relação a ela, levanta-se importantes questões, dada a maior complexidade que lhe confere a amplitude do envolvimento popular e a sua notável persistência após a derrota miguelista, sobretudo através da guerrilha do Remexido, guerrilha esta que foi a única que logrou manter-se por um longo período (cerca de 6 anos, pelo menos), sobrevivendo à morte do chefe e de alguns dos seus sucessores. As guerrilhas que se levantaram no Alto Minho e nas Beiras, apesar da perturbação que causaram, não tiveram uma duração comparável, nem alcançaram o estatuto de verdadeira questão nacional, apenas reservado à guerrilha do Remexido, traduzido em notícias oficiais regulares sobre a perseguição que lhe era movida e no seu julgamento público e formal, ao contrário dos demais chefes de guerrilha, executados sumariamente por forças militares.