em Literatura Portuguesa
Referência:
15412
Autor:
DIAS, Saúl
Palavras chave:
Bibliofilia | Literatura portuguesa | Poesia | Presença | Primeiras edições
Ano de Edição:
1952
Edições “Ser”. Vila do Conde. (1952). In-8º de 56-(2) págs. Brochado. Desenho de Julio, de página inteira. Exemplar muito bem conservado, sem defeitos maiores apontar.
PRIMEIRA EDIÇÃO (e única).
SAÚL DIAS é pseudónimo do poeta (e pintor) Júlio Maria dos Reis Pereira. Nasceu e morreu em Vila do Conde (1902-1983). Permaneceu em Vila do Conde até completar o quinto ano do Liceu, curso que terminaria já na cidade do Porto, no Liceu Rodrigues de Freitas. Estudou pintura como aluno voluntário na Escola de Belas‑Artes do Porto durante dois anos, entre 1919 e 1921, e licenciou‑se em Engenharia Civil na Faculdade de Ciências da Universidade também do Porto, já em 1928. Entre 1931 e 1935, exerceu a sua profissão na Câmara Municipal de Vila do Conde e, a partir de Janeiro de 1936, no Ministério das Obras Públicas, em Coimbra, tendo sido transferido no ano seguinte para Évora, onde fixou residência. No Alentejo viria ainda a dedicar-se à olaria tradicional, nos anos de 1963-1964. Do seu casamento com Maria Augusta da Silva Ventura, em 1941, nasceu um filho, José Alberto dos Reis Pereira. Irmão mais novo do escritor José Régio (1901‑1969), com quem colaborou ao longo de toda a vida, Júlio Maria dos Reis Pereira dividiu a sua actividade criativa entre a poesia e pintura, produzindo uma obra bifronte com expressão declarada no plano onomástico: Saúl Dias, com acento, foi o pseudónimo escolhido pelo poeta para identificar a sua obra poética; Julio, sem acento, o ortónimo escolhido pelo pintor para assinar a sua obra plástica.
Segundo Joana Matos Frias, " ... A obra de Saúl Dias cumpriu porém, como notou João Gaspar Simões ao considerá-la «um agente de ligação entre o lirismo puro tradicional e a poesia moderna», um dos propósitos mais modernistas da «folha de arte e crítica», com base na indissociabilidade, ao nível da criação estética, das produções do poeta e pintor. O vínculo concretizou-se na própria concepção dos livros enquanto objectos, já que todos os volumes de Saúl Dias — incluindo as edições da Obra Poética — apresentam trabalhos de Julio. A poesia de Saúl Dias, por seu turno, estruturou-se a partir de um núcleo de temas, motivos e sugestões plásticas comuns ao trabalho pictórico de Julio, o que explica a singularidade da sua obra no seio da geração presencista, e a sua importância para o desenvolvimento do Modernismo encetado pelo Orpheu, em particular pelo artista integral Almada Negreiros. No plano do conteúdo, regido por um princípio ecfrástico, destaca-se, para além das explícitas alusões ao desenho e à pintura, a recorrência das personagens e dos ambientes característicos do imaginário expressionista e onírico do pintor, desde …mais e mais…, como a prostituta do bordel e o poeta de café, o palhaço e o doido, Arlequim e Colombina, a maga e o vagabundo, o poeta e a menina, todos protagonistas de uma sensualidade e de um erotismo discretos também detectáveis nos desenhos e aguarelas de Julio. No plano da expressão, a dicção poética de Saúl Dias parece apresentar-se como a versão em verso do poder de elíptica sugestão, do traço contido e delicado, do pudor descritivo, da graciosidade, do tom ingénuo e irónico, e das cores puras e fortes das telas de Julio, sem qualquer prejuízo da sua específica autonomia verbal, retórica e poética, conforme demonstrou detalhadamente Luís Adriano Carlos no Prefácio «Pintura e poesia na mesma pessoa».