em Monografias & regionalismo
INCM / Câmara Municipal de Portalegre, Lisboa, 1984. In-8º de 151-(14) págs. Br. Ilustrado em extra-texto.
Obra com introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins.
Da introdução:
História dum manuscrito quase ignorado durante mais de três séculos
"Em 1616, detrás das costas da capela de S. Tiago, concluía o padre Diogo Pereira Sotto Maior, indigno capelão em a Santa Sé, o seu Tratado da Cidade de Portalegre. Recolha de tradições e lendas, relato de factos de que teve conhecimento ou que ele próprio presenciou, de tudo foi guardando memória escrita em cadernos, borrões e cartapácios. Desses materiais dispersos, e satisfazendo o interesse manifestado pelo bispo Rodrigo Cunha, resultou o Tratado que lhe dedicou, e ofereceu pelo Natal desse ano de 1616. Este manuscrito fez parte da livraria do bispo Rodrigo Cunha e, no século XVIII, encontrava-se na cela do padre doutrineiro da Casa Professa de S. Roque. É citado por Barbosa Machado na sua Biblioteca Lusitana, quando se refere a Diogo Pereira Sotto Maior. Nos princípios deste século, Luís Keil, apaixonado investigador histórico, descobriu-o nas estantes dum alfarrabista em Lisboa, e, por uns algarismos recentes feitos a lápis na capa de pergaminho que o envolve, lembrou-se de lhe procurar o rasto em catálogos de antigas livrarias. Encontrou-o registado no catálogo da Livraria Pereira Merelo, com o n.º 5668 - PEREIRA (Padre Diogo). - Manuscrito - Tratado da Cidade de Portalegre e de suas antiguidades, brochado em pergaminho."
Do primeiro capítulo
Do sítio e assento desta nobre cidade
«Muitas e diversas opiniões há, se esta cidade floresceu em tempo de gentilidade, ou se foi edificada por cristãos. Uns dizem que daquela antiga cidade que está ao pé da vila de Marvão, chamada Miróbriga ou Medóbriga, [daquela antiga cidade que está ao pé da vila de Marvão, chamada AMMAIA (JDACT)] foi edificada esta nossa de que vou tratando e que tomou por nome Ammaia, o que parece ter alguma cor de verdade, porque eu vi e li um litreiro que está em úa vasa de culuna, na ermida do Espírito Santo extra muros desta cidade, escrito em letras romanas, o qual, tresladado da maneira que está, diz assi:
IMP. CAES. L. AVRELIO
VERO. AG. DIVI. ANTO
NINI. F. PON. MAX.
CÕS. II. TRIB. PO.
PP. MVNICIP.
AMMAIA.
Quer dizer a exposição dos caracteres acima, segundo meu parecer, que Ammaia, sendo município, dedicou estátua ao Imperador Lúcio Aurélio César, verdadeiro Augusto, filho de Antonino, Pontifici Máximo, Tribuno do Povo, Cônsul duas vezes, Pai da Pátria"